As rochas são utilizadas em aquários muito antes da popularização no “Nature Aquarium”, que busca principalmente no paisagismo japonês tradicional técnicas para a composição de layouts harmoniosos, milimetricamente calculados e exageradamente perfeccionistas. A exploração desses elementos inertes “cheios de vida” e complexidade permite a construção de paisagismos luxuriantes, cheios de riqueza e disseminando beleza nos olhos de seu espectador.
As rochas são, sem sombra de dúvida, o elemento mais estável de um paisagismo. Elas possuem uma grande capacidade de direcionar o olhar de quem contempla um aquário, que inconscientemente utiliza esses elementos inertes para “passear” com os olhos num layout. Por conseguinte, freqüentemente as rochas são a peça-chave para o equilíbrio de todo um paisagismo, que se apóia na própria solidez característica da rocha. Esses belos elementos estabilizam o aquário, podem dividir moitas de plantas e inclusive determinar o caminho que cardumes de peixes percorrem no aquário!
Esse artigo mostrará algumas lições básicas para a composição de jardins aquáticos utilizando rochas como principal elemento inerte. Essas lições não são “leis”, embora seja extremamente aconselhável seguir algumas à risca. Você pode utilizar várias dessas orientações em conjunto, ou prender-se à apenas uma delas. Enfim, aproveite-as.
1. PACIÊNCIA
A principal lição básica do pedragismo. Você deve estar se perguntando: “Por quê ter paciência com uma rocha, se ela não cresce, não muda de lugar e não se mexe?”. Acontece que, encontrar um bom posicionamento de uma rocha num paisagismo nem sempre – ou melhor, quase nunca – é tarefa fácil. Construir uma composição de rochas é, de fato, um exercício de paciência. Muitas vezes, mover uma única rocha de uma composição significa mover todas! Algumas peças teimam em não se manterem no lugar, tombam para os lados, desequilibram-se. Outras fazem sombras excessivas. Muitas não permitem que sua melhor face seja explorada nesse ou naquele paisagismo.
Diante de tantas confusões, uma valiosa dica é primeiro projetar a composição que será utilizada no layout, e depois ir atrás de rochas que se “encaixem” no projeto, buscando peças que mais se aproximem da proposta desejada – outro grande teste de paciência!
2. DISPOSIÇÃO DA ROCHA EM RELAÇÃO AO SUBSTRATO
A rocha é um elemento que serve como base ao paisagismo, equilibrando-o e dando apoio a ele. Sendo assim, é necessário que a rocha transmita estabilidade e solidez, ou seja, aquela famosa disposição de rochas equilibradas uma ás outras, seja formando “pilhas”, tocas artificiais ou “castelinhos” (bastante freqüentes em aquários de iniciantes) é um verdadeiro “pecado” do aquapaisagismo, comprometendo toda a beleza de um layout, que fica muito mais agradável se todas as rochas estiverem descansando sobre o substrato.
No entanto, não basta só colocar a rocha sobre a areia, pois frequentemente ela continuará desequilibrada. É necessário “assentar” a rocha no substrato, o que pode ser feito facilmente com areia cobrindo parte da rocha até que ela pareça estável, como se estivesse naquela posição há muito tempo, com os sedimentos cobrindo parte dela.
3. CENTRO DE GRAVIDADE
Essa lição têm uma íntima relação com a anterior, já que o centro de gravidade de uma peça tem tudo a ver com o equilíbrio da mesma. No paisagismo aquático, é muito bom aproveitar a diagonalidade de uma rocha, contudo, é quase obrigatório respeitar o centro de gravidade da mesma. Sendo assim, jamais force o ângulo de inclinação de uma rocha apoiando-a sobre outra menor!
4. TRIANGULAÇÃO
A triangulação é um artifício inspirado numa das mais antigas técnicas de paisagismo japonês – o sanzon. A forma mais tradicional consiste de três rochas, uma maior e outras duas menores, que equilibram a primeira. Essa composição forma um triângulo imaginário, cujas vértices localizam-se no ápice de cada rocha. As outras duas triangulações mais comuns são compostas por 5 e 7 rochas, que formam 2 e 3 triângulos imaginários, respectivamente
5. AGRUPAMENTOS DE ROCHAS - DUAS OU TRÊS PEÇAS
Principalmente quando usamos pares de rochas (onde a triangulação frequentemente se torna inviável), devemos explorar a diagonalidade das rochas em relação ao substrato. Um esquema muito simples para compreender essa técnica é a apresentada a seguir, que exibe as disposições de rochas (representadas pelos círculos cinzas) mais aconselháveis. As rochas possuem tamanhos diferentes, e o melhor modo de visualizar esse gráfico é considerando a rocha central localizada na proporção de ouro do aquário.
6. TIPOS DE ROCHAS UTILIZADAS
No paisagismo “nature aquarium”, idealizado pelo fotógrafo e aquarista Takashi Amano, as rochas do tipo seixo rolado de rio quase não são utilizadas, pois na maior parte das vezes o formato delas não permite a exploração de diagonalidades e triangulações, já que rochas arredondadas não tem um ápice definido.
As rochas claras também são por vezes negligenciadas (embora não sejam “proibidas”). Além de se confundirem com o substrato geralmente claro, essas rochas chamam muito a atenção para si próprias, criando pontos de tensão exagerados. As melhores cores para rochas são a marrom, a avermelhada e a cinza-escura (conhecidas no ramo da jardinagem como “azuis”).
Não se deve posicionar rochas extremamente semelhantes (tamanho e forma) muito próximas. Uma dos recursos que as rochas nos permite é utilizar-se de particularidades que cada peça possui, e devemos aproveitar isso. Sendo assim, um outro grande erro cometido no pedragismo é manter rochas parecidas em pares “gêmeos”. No entanto, deve ficar bem claro que jamais devemos utilizar rochas de diferentes tipos num mesmo layout!
Flávia Regina Carvalho, setembro de 2004
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